Ritualidades: A Metamorfose do Corpo Ritual
Foto performance
A vida pulsa como rito, e o corpo, com suas raízes expostas, revela a sabedoria que cresce lenta e profunda. Nas da pele, escritas invisíveis narram as histórias que a alma viveu — águas doces e salgadas tecem trilhas, cruzando desertos e florestas da existência. Cada rastro, cada traço, é uma oferta à terra que nos criou, uma promessa às filhas que virão, livres para habitar seus próprios caminhos.
O corpo oracular guarda a inteligência ancestral: uma memória que reza paciência, força e fé em si mesma. O sal da vida transborda pelos olhos; a seiva da pele floresce em gestos, risos e lágrimas que ritualizam a existência. O corpo inteiro dança, orando em silêncio, fecundando a terra com suas raízes e expandindo o espírito em movimentos. Raízes fundem-se ao coração e ao chão, honrando o mistério que transforma.
Na exposição “Ritualidades”, convidamos o espectador a testemunhar a metamorfose do corpo como um espaço sagrado. A arte e a espiritualidade se entrelaçam sob a pele do corpo-fêmea, celebrando a liberdade de ser. Os rituais revelam os rastros da realidade espiritual enraizados na alma, transformando as dores e os amores em oferendas de beleza e significado.
Cada gesto, cada respiração, se torna um convite à sacralização da Vida. Este projeto propõe uma exploração profunda das travessias e das transições, reconhecendo o corpo como um altar que honra a complexidade da existência. Ao atravessar as sombras e iluminar os espaços ocultos, “Ritualidades” se torna uma reflexão sobre a presença do corpo que ritualiza — uma dança de força, vulnerabilidade e transformação.
A obra é uma provocação à consciência coletiva, instigando uma nova visão sobre o corpo e seu lugar na arte contemporânea. Inspirando-se em vozes que reverberam no silêncio das práticas espirituais, a exposição emerge como um manifesto de ativismo espiritual, convidando todos a redescobrir a sacralidade do ser.
A vulnerabilidade e fragilidade ocupam novos espaços a partir do resgate com a expressão. Farejar as frestas de si mesmo é ir até as cavernas, e sair delas - em uma experiência sensorial com a vida.
Os experimentos revelam ação poética na arte, desconstruir os conceitos enraizados sobre o corpo.
No mais belo das expressões, a respiração das inquietudes da alma se faz presente. A poesia que vem da dor também vive no silêncio da palavra e desaba em estados de fé sobre a jornada. O relevo dá contorno à passagem pelas águas, a dor dá contorno a materialidade do corpo.
Absorver um corpo que atravessa as dores, resistência, inquietações, sufocamento, corpo engessado, capturado, rompido, aparece ativamente como elemento central e própria obra de arte. A relação do corpo é um confronto, o corpo se recria, dando forma a novos significados, ocupa o espaço de maneira própria, trazendo todos os questionamentos internos à tona, como a identidade e suas origens.
Entre as performances também envolvem uma experiência autobiográfica, onde a artista se expressa e se move em busca de sua identidade. A fotografia registra a revolução do sagrado.
A artista busca relacionar às obras suas próprias experiências, seu corpo e sua forte ligação espiritual com os elementos da natureza. Fazendo-se presente uma busca incessante pelo pertencimento, pelas águas, pela identidade.